Páginas

10.12.11

The Lightning Bolt

Tem sido uma longa pausa. No jardim, nas árvores, aqui no blog. Outras prioridades chamam e o tempo não tem dado para tudo. A parte boa, é que as árvores não fizeram pausa. Continuaram a crescer. Aproveitaram este restinho de outono para "esticar os braços" mais um pouco. A última "espreguiçadela" antes do sono do inverno.
Ainda assim, com tanta coisa para fazer, arranja-se sempre um tempo para voltar ao jardim e pôr o trabalho em dia. Como foi o caso da primeira intervenção neste juniperus chinensis que já estava planeada desde o verão. Acabada a estilização, ao segundo ou terceiro olhar, o nome surgiu instantaneamente. Talvez inspirado no tempo instável, talvez inspirado na linha do tronco com o ten-jin. The "Lightning Bolt".

Before

After

24.10.11

When shadows bring light


O Pedro é arquitecto. Naturalmente curioso pelas artes, decidiu recentemente interessar-se por mais uma: o Bonsai. Um destes dias andávamos de volta da estética, dos estilos, da apresentação, quando fomos parar aos Tokonoma (alcova, nicho, quarto interior, cavidade construída na parede da divisão principal da casa que desempenha um papel central na decoração tradicional japonesa).
Pegunta o Pedro "Os tokonoma, no bonsai, são claros ou escuros?". "Como?" respondo eu. "Se têm sombras, se jogam com elas na composição" lança de novo o Pedro. Confesso que nunca tinha pensado nisso "Bom... são cuidadosamente iluminados... mas onde é que queres chegar?". Remata o Pedro "Conheces o "Elogio da Sombra"? Não? Eu empresto-te".
"Elogio da Sombra" é um pequeno ensaio escrito por Junichiro Tanizaki nos anos 30 (1933). É uma fascinante obra em que o autor nos transporta pelas grandes mudanças de um Japão que experimenta o caminho do progresso ocidental e do que se vai perdendo da estética tradicional japonesa. Do uso da sombra e do vazio, da penumbra e da meia-luz.
Ler este pequeno livro, é compreender melhor a estética tradicional do bonsai. O porquê das madeiras enceradas, das patinas, dos azuis e verdes suaves dos vasos, dos vermelhos robustos. É entender o verdadeiro sentido do wabisabi. Ao contrário de nós, ocidentais, que criamos a pensar na luz, esta é uma estética que elogia a sombra.
Recomendo a leitura.

Elogio da Sombra
Junichiro Tanizaki
Editado por: Relogio DÁgua

Obrigado Pedro.

9.10.11

Very very late summer something

Este Outono... quer dizer, Verão... enfim, Outono... não se decide. LOL
As temperaturas continuam a bater os 30ºC e parece que, segundo os senhores da meteorologia, a coisa ainda vai durar mais uns dias. Com estas condições, as árvores também parecem não ter muitas certezas do que querem fazer da vida... quase como quem diz "quero lá saber". Umas, talvez motivadas pelo fresco da noite ou pelo tamanho dos dias que vai ficando mais pequeno, já começaram a ganhar os tons outonais. Outras, com o sol forte e o calor, rebentam como se o Inverno fosse só para o ano. E há umas ainda que, baralhadas com isto tudo, ficam quietas, paradas, nem para a frente nem para trás, como que à espera de perceber o que é que  se segue.
Neste impasse, para além das pequenas tarefas de rotina, pouco fica para avançar. O que vale, é que há sempre um junipero de viveiro para brincar. Às vezes, com sorte, até se encontram umas "coisitas agradáveis". Bom... tirando o tempo que perdi a retirar as flores (mesmo sendo só as dos ramos que deixei para trabalhar, ainda foram umas quantas... lol... vinha carregadinha), o processo foi o do costume. Escolhe, corta, limpa, arama, põe no sítio, já está. Primeira estilização feita. O "Falcão" já voa ;)

Antes

Durante

Depois
"The Hawh" - 1st styling

6.9.11

New Copper Wire


Quando voltei do Japão, uma das coisas de que mais senti falta, entre muitas, foi de poder aramar com cobre. Na verdade, na grande maioria do tempo que lá estive trabalhei com este tipo de arame (ao ponto de ficar com calos nos dedos... lol) e foi a constante falta que sentia deste nobre material que me "empurrou" para mais esta aventura.
O cobre, é utilizado no bonsai maioritariamente no trabalho com coníferas. Distingue-se do alumínio principalmente por ser mais forte e é esta diferença que faz com que seja tão desejado. Primeiro, porque nos permite usar calibres bastante mais finos (menos do que a metade do que usamos em alumínio), o que torna o trabalho muito mais "limpo" dando a sensação que existe muito menos arame na árvore. Depois, porque "não tem memória". Quando manipulado nos ramos tem tendência a ficar mais rijo e por isso "esquece" a posição original e fixa muito melhor o trabalho no sítio (em espécies muito "elásticas" como os juniperus faz toda a diferença ;) ). Finalmente, porque com a exposição ao ar e à água (da chuva, das regas...) oxida, dando-lhe um aspecto muito mais natural.
Mas voltando à história... Quando voltei, este assunto começou a andar às voltas na minha cabeça. É que não é assim tão fácil ter arame de cobre para trabalhar.
Primeiro, porque aqui na Europa é excessivamente caro. Claro que é um metal nobre e por isso tem mais valor, mas a diferença é tão grande que a opção alumínio é quase inevitável. Claro que existe um motivo para estes valores... a maioria do arame vem do Japão. Transportes, taxas, impostos... fica mais caro. Também porque é um risco armazenar grandes quantidades por muito tempo. O arame pode ir perdendo propriedades... menos quantidade, mais caro... enfim, economia de escala ;) Depois também as quantidades por cada medida. Em arame mais grosso 1Kg é bom mas em arame mais fino é muito. Para quem não tem assim tantas árvores, torna-se muito caro comprar várias medidas.
Então vem a pergunta: "Porque não comprar arame de cobre normal?" (ou como se vê por vezes "Vou ali descarnar uns cabos eléctricos e já está!" lol). Porque este arame usado em bonsai não é "normal". O cobre tem que ser recozido, ou "queimado" como se diz muitas vezes, para que tenha a maleabilidade certa para trabalhar. "Então queima-se! Vai para a lareira!". Pois... não é bem assim... é que o difícil mesmo é conseguir recozer o arame nas condições certas e todo por igual. O método "lareira" falha uma boa parte das vezes, deixando um monte de arame torto e quebradiço.
Pois foi a pensar nisto tudo que decidi aprofundar a questão. Estudar os métodos, fazer muitos testes. E por fim, chegar a um resultado muito idêntico ao do produto que conheci tão bem no Japão, nas medidas e quantidades que precisava, e por um valor "justo" comparado com o alumínio.
E é esse cobre que passo a ter disponível para todos os interessados. É só mandar-me um mail para jpires007@gmail.com com o pedido.


Notas:
- Para manter as suas propriedades por mais tempo, o cobre é recozido no momento do pedido.
- As medidas apresentadas são as existentes. A sua disponibilidade será confirmada no momento do pedido.
- Existem medidas acima de 3.0mm. Por serem pouco usadas não estão apresentadas. Caso haja interesse é só mandar um mail para mais informações.
- O pagamento e a entrega serão combinados no momento do pedido.

26.8.11

Pine Planning

Este não será um daqueles post's "Nada numa manga... nada na outra... charammm!" LOL. Antes pelo contrário, corre até o risco de se tornar um pouco técnico e aborrecido (peço desculpa), mas como tinha a máquina fotográfica por perto, lembrei-me de fazer a reportagem;) 
Este pequeno Sylvestris foi-me oferecido por um bom amigo, o Márcio Meruje. É aquilo a que muitos chamam com carinho "material para ir brincando"... comparado com uns quantos exemplares que estão na Covilhã este, de facto, não é nada que "tire a respiração a ninguém"... hehehe... Mas é um pequeno pinheiro de yamadori e com algum jeito e muita sorte, pode ser que dê alguma coisa no futuro. Já está aqui no jardim há uns tempos. Esta é a sua segunda época de crescimento aqui em Lisboa.
No inicio da Primavera foi transplantado para um vaso de treino maior que o original. O substracto usado é muito à base de areão e alguns elementos que retêm a água (pode ser akadama... pode ser turfa...). Na verdade esta combinação não é muito diferente daquilo que encontra no chão dos pinhais a que se costuma chamar saibro. O areão, para além de muito drenante,  tem a propriedade de aquecer e reter o calor quando exposto ao sol, mantendo os vasos quentes, coisa que os pinheiros parecem gostar. É uma combinação que vi ser usada no Japão e decidi experimentar este ano com alguns pinheiros. Até agora, com bons resultados como se pode ver pelo exemplar aqui apresentado.
Mas é por baixo dos 40cm de altura de folhagem que está o melhor desta árvore. Vamos então olhar para  as melhores características, analisar os resultados de algum trabalho feito até aqui e planear o futuro.


Espreitando por baixo dos ramos, encontramos o pequeno tronco de 3,5cm de grossura. É claro que ainda terá muito que alargar mas, apesar de pequeno, uma das primeiras coisas que salta á vista é a casca que já começa a apresentar, sinal de que não é uma árvore assim tão jovem como aparenta. Talvez os elementos e o local onde estava antes de ser recolhida a tenham feito "crescer curta"... enfim, mas temos sinais de uma boa casca e isso num pinheiro é sempre bom.


Depois, o movimento do próprio tronco. Num curto espaço vira e revira em várias direcções. Depois temos os ramos longos e tubulares, tão comuns nos sylvestris recolhidos mas tão pouco interessantes.


E aqui, podemos fazer uma de duas coisas.
Trabalhar com o que temos. Aramar, pôr ráfia, umas guias, fazer algum "spagueti" e tentar construir a partir daí. Desde que as proporções do conjunto sejam equilibradas é uma boa solução.
Ou então, como aconteceu neste caso, tentar "trazer tudo para traz" e recomeçar a árvore na tal parte interessante. Isso pode ser feito com enxertos ou, como foi o caso, fazendo um bom trabalho de velas para provocar "back buding".
E esse foi o trabalho feito no ano passado.  Já este ano, os resultados apareceram. Uma grande quantidade de novos rebentos, alguns junto ao tronco.



Este tipo de resultados, especialmente num pinheiro, conseguem-se mais facilmente trabalhando com uma árvore vigorosa e por etapas. Se aramamos e fazemos jin's, tentando logo um primeiro desenho, é menos provável conseguir um bom "back buding". Se não precisamos dele, então está tudo bem... mas se precisamos, vai ser mais difícil... mesmo com "mekiri's" e outras técnicas usadas para o efeito.
Por isso, e também por causa do transplante, a árvore esteve a crescer livremente durante esta época. Até agora foi sendo observada até mostrar os sinais de que estava outra vez a crescer com vigor.
O primeiro sinal foi a rebentação vigorosa e uniforme por toda a árvore. As novas velas alongaram até ao Verão entre 4 e 5 cm.


Para confirmar, em Junho, foi cortada uma das novas velas pela base. Em Agosto, já se podem ver bem os novos botões a inchar. Tudo está normal, a árvore está a responder como é suposto. Por isso e se fizer sentido no plano, já podemos passar a uma nova etapa.


O fim do Verão é uma excelente altura para fazer selecção de rebentos nos pinheiros. Á partida, já não haverá mais rebentação (a não ser que seja provocada) e por isso, já podemos escolher aquela com que queremos trabalhar. Claro que se quisermos trabalhar com toda, esta operação não faz sentido e por isso não se faz. Esta selecção de rebentação é feita de formas diferentes conforme os objectivos. Neste caso, o que queremos é dar mais oportunidade de crescimento aos novos rebentos resultantes do "back buding". Mais energia e mais luz. Por isso, retiramos a rebentação mais forte nas pontas. Aqui, o bom senso deve ser utilizado ;) Não é para tirar tudo e deixar só uns "pobres botões". De facto, no futuro os novos ramos vão crescer desses botões mais no centro, mas se deixarmos só esses desequilibramos o sistema energético da árvore... o que pode ser uma grande asneira :(
Nesta etapa, também já são escolhidos os ramos que queremos para trabalhar. O primeiro, que saí na curva e dá o "balanço" à árvore. E o que fará a continuação do tronco de onde vão surgir todos os outros. Fica também o mais forte como "ramo de sacrifício" para não tirar energia a mais à árvore. No futuro próximo vai crescer e fazer engrossar a base e lá mais à frente, quando fizer sentido, será cortado.


Por fim, os dois ramos que ficam, são aramados quase "informalmente" para as posições, tentando que os rebentos apanhem todos luz e que cresçam mais ou menos na direcção certa. Nada de aramação fina...  nesta fase é desnecessário e até perigoso para os jovens botões.
Mais á frente, como já foi dito, a árvore será feita com toda aquela rebentação mais central.


E por agora este pequeno moyogi vai descansar e crescer até ser altura de voltar a ser trabalhado.
Para o ano há mais... OK? ;)

24.8.11

The Little Stump

Recolha - Maio 2009

Cepo, touco, troço, tarolo.
É assim que começam quase todos os bonsai de yamadori. Procura-se o melhor material, prepara-se e escava-se o melhor possível, planta-se num vaso e depois espera-se. Normalmente 2 anos (por vezes mais... raramente menos). E vem a pergunta: "Mas tem mesmo que ser 2 anos?". Eu diria que sim, por dois motivos. Primeiro, porque é o tempo da árvore se adaptar ao vaso, de criar novas raízes e nova rebentação. De ganhar a força necessária para continuar o seu caminho até ser um bonsai. São várias rebentações, fortes e estáveis. Mais do que um ou outro ramo verde aqui e ali, é preciso que a árvore volte a crescer "normalmente" e isso são, geralmente, os tais 2 anos. Esta explicação trás, normalmente, outra pergunta: "Mas se mexer antes, morre?". Não obrigatoriamente. Uma boa parte das vezes não. Mas é aqui, nesta pergunta, que está a grande questão. O mais importante não é se morre ou não... o que me leva ao segundo motivo que, embora menos abordado, é talvez para mim o mais importante. Este tempo de espera, serve principalmente para termos um pré-bonsai nas melhores condições e com todas as hipóteses de desenho em aberto. Mexer antes, é reduzir estes factores. Depois, podemos até decidir "cortar tudo" e recomeçar do zero, mas com uma árvore que vai responder bem e percebendo onde é que estão as zonas mais fortes e mais fracas do conjunto. Perceber este subtil argumento, é a diferença entre trabalhar com "bom material" ou andar sempre com o "coração nas mãos" a tentar recuperar árvores "combalidas";)
Pois bem, este pequeno tarolo de zambujeiro esteve um pouco mais de dois anos a recuperar. Foi o tempo de a árvore encontrar novas linhas de seiva e rebentar com vigor. Neste caso, era mais do que provável que algumas áreas secassem. Foi também o tempo para essas mesmas áreas "amadurecerem ao tempo". Já com a rebentação vigorosa e a lenificar bem, foi tempo dos primeiros trabalhos.

Pré-bonsai - Agosto 2011
Como se pode ver na primeira imagem, era necessário disfarçar o corte direito da serra feito no momento da recolha. Tratando-se de um árvore muito antiga, que já apresentava alguma madeira morta natural, a ideia foi tentar aproveitar as reviravoltas das fibras secas integrando a "nova" madeira com a "antiga". No futuro, depois de "amadurecer no tempo", o trabalho poderá ser ligeiramente re-editado e limpo com jacto de areia.



Depois foi tempo de escolher a frente. Apesar de haverem várias hipóteses, a escolha recaiu naquela que dava uma imagem mas compacta e maciça da árvore. Nesta frente, as veias vivas percorrem a madeira quase no limite da sobrevivência, jogando com uru's e rachas naturais. Apesar de muito baixo e largo (altura: 18cm, nebari; 24cm) este pequeno zambujeiro consegue ter alguma dinâmica, subindo da direita para a esquerda onde lança, mais baixo e destacado, o sachieda.

Foto: Agosto 2011

8.8.11

Literati exercise

Volta não volta, lembro-me dos tempos do novo talento. De um certo entusiasmo ingénuo. Da ideia que "dá sempre para fazer qualquer coisa". De mais "do" e menos "don't". Tenho saudades. Por vezes parece que nos vamos preenchendo com tantas certezas, com tanta informação, que nos condicionamos de forma menos positiva. O medo do erro, do defeito apontado. Pois a arte, normalmente, não passa por esses caminhos. Ela é a "grande sinfonia do erro". A procura do original faz-se errando. E volta não volta, com sucesso.
Decidi, ao lembrar-me desses tempos, voltar repetir o exercício do novo talento. Mas desta vez, numa versão "maleficamente" melhorada. A árvore é maior mas também é pior. Este juniperus chinensis parecia não ter mesmo solução. Por isso, em vez das 3 horas demorou um pouco mais de tempo...lol
Saltando parte do "esta é uma planta de viveiro" e do "começa-se por eliminar o que não se quer mesmo"... isso e o transplante foram feitos no fim do inverno. Aqui está o "antes", que é como quem diz, a meio da manhã quando o tirei da bancada ;).


Depois seguiu-se o normal. Foi escolhida a ramificação a trabalhar, a casca foi limpa e a madeira morta trabalhada. Desta vez "european way", a madeira foi logo desfiada e queimada para poder integrar-se o melhor possível na imagem final.


Claramente, o caminho possível era a de um literati. Decidi procurar uma imagem final inspirada em alguns exemplares que vi e trabalhei em Taisho-en. Em vez de uma copa mais fechada, a imagem é conseguida com nuvens de folhagens separadas, mostrando ramos flutuantes que serpenteiam no ar.
Ao final da tarde, este Junipero de 65cm ficou terminado. Por agora.
Tenho que me lembrar de fazer isto mais vezes ;)

6.8.11

Trident update

Este é o caminho das caducas. Mais tranquilo. Um projecto começado há 2 anos, que entretanto já se desdobrou em dois. Pois aqui fica o ponto de situação da árvore maior.
Na estação de crescimento de 2010, foi feito um enraizamento aéreo e retirada uma árvore mais pequena do topo da base, que ficou com um grande corte para cicatrizar e um primeiro ramo para enxertar. Para além de trabalhar o nebari, essas foram as tarefas decididas para 2011.

Foto: Stembro 2010

Depois do transplante no início da primavera e do enxerto feito logo de seguida, a árvore ficou a crescer livremente até ao verão. Nesta fase, este tipo de crescimento é importante. Não só para que a base (nebari e tachiagari) ganhem consistência, mas também para começar a corrigir cicatrizes.

Foto: Junho 2011

A grande cicatriz feita com o corte da árvore mais pequena já está a fechar de forma homogénea...


... e o enxerto do primeiro ramo resultou (de tal maneira que, depois de cortado, rebentou para os dois lados...lol). Nesta operação, é importante deixar novos rebentos, que serão o futuro ramo, o mais próximo possível do tronco, como é o caso.


Depois de podado, aqui está ele:

Foto junho 2011

Dois meses depois, já se pode ver o vigor deste tridente, fruto de uma boa adubação e rega.

Foto: Agosto 2011
Agora que as bases já estão mais ou menos no sítio certo, talvez na próxima estação de crescimento seja possível começar finalmente o desenho deste Acer.
Para já, este tridente continuará a fazer aquilo que sabe fazer melhor: crescer.

1.8.11

2nd Round

Um destes dias, dei por mim a pensar que cada vez mais gosto mais da "segunda volta" na estilização das árvores (pelo menos nas coníferas). Se a primeira abordagem é de grandes decisões... o que é que sai, o que é que fica, o que é que vai ter que ficar pelo menos por agora... lol, acaba por ser também, na maioria das vezes, um esboço, um rascunho, uma espécie de ante-estreia, um "no futuro a coisa será mais ou menos assim". Não quero dizer com isto que não goste desse momento. Antes pelo contrário ;) Adoro. É a primeira pincelada na tela em branco. É o começo do caminho.
Mas a segunda estilização, sendo diferente, também tem muito de especial. Voltar a olhar, descobrir novas possibilidades. Quando a árvore responde bem, tudo está mais controlado. Mal comparando, é a diferença do dia em que um treinador pega num cavalo selvagem, para o dia em que se senta no seu dorso e o começa a dominar. Os dois já se conhecem bem. A confiança é estabelecida.
Tudo isto, a propósito deste juniperus chinensis. Foi estilizado pela primeira vez no II Congresso da FPB, em Novembro passado. Na altura foram tomadas as decisões de fundo no sentido de encontrar uma imagem aproximada do que poderia dar esta árvore. Uma meia-cascata longa para a direita. Aqui está ela  uns dias depois:

Novembro 2010
Desde essa data, ficou a recuperar e a crescer. Na no inicio da Primavera vieram as agulhas de stress, mas como não se exagerou na limpeza de massa verde na primeira intervenção, rapidamente voltaram as pontas de escamas cheias de vigor:


Como se pode ver pela primeira imagem, na altura da primeira estilização foram deixados muitos ramos a mais. A vegetação era muito longa e só assim foi possível encontrar uma imagem minimamente agradável sem tiram muita energia à árvore. Agora, foi altura de começar a eliminar esses mesmos ramos para substituir por outros:


Depois da limpeza de massa verde, já se pode ver o resultado do trabalho começado no fim do ano passado: Vegetação muito mais compacta.


Agora, as possibilidades começam a ser muito mais interessantes... Depois de aramar (desta vez com a calma que não existe numa demonstração... lol) o resultado deste 2nd Round foi este:

Julho 2011 - Frente

Julho 2011 - Lateral

27.6.11

The Playground

Do outro lado do mundo veio uma inspiração - Taisho-en. O espaço, as rotinas, os métodos.
Por isso, No final do Inverno passado uma decisão foi tomada. E a inspiração passou ao papel, depois aos martelos pneumáticos, depois aos tijolos, à areia e ao cimento, depois às madeiras, depois ao metal e dia após dia materializou-se. À pequena estufa juntou-se o workshop e a este muitos metros de bancada. Às novas canalizações sobrepuseram-se novos caminhos. E no fim chegaram as árvores.
Aqui ficam as primeiras imagens do novo Jardim dos Melros.
Esta é uma daquelas brincadeiras que se está a tornar num caso sério ;)







The Caterpillar

1,2 e 3. E a chegar ao fim do terceiro ano, toca a arrumar tudo de novo. Voltar a desmanchar para construir melhor. Voltar a fiar o casulo.
É certo, que o caminho tem sido cheio. De aventuras, de surpresas, de alegrias mas também de algumas desilusões. Tudo junto, fazendo o balanço, "tirando o olhar da árvore para contemplar a floresta", só posso concluir que tem sido bom. Um mapa mundo cheio de acontecimentos, mas principalmente de amigos;)
Este último ano fica principalmente marcado pelo Japão. Como já escrevi, revelou-se uma autentica "Caixa de Pandora". Se por um lado foi uma oportunidade de crescer, por outro, ao voltar a casa, foi um choque gigantesco. Percebo perfeitamente quando vejo antigos alunos, mesmo com o terramoto, não hesitarem duas vezes perante a hipótese de voltar... A pergunta que, durante os últimos meses, nunca me saiu da cabeça foi: "E agora? Como é que faço? Começo por onde?". Pois a resposta é simples ;) Começa-se começando. Lançando a semente. Aplicando a aprendizagem. Tecendo, novamente, o casulo.
Isto trás, claro está, decisões. E as decisões trazem mudanças. Logo a começar pelo meu espaço. Que levou uma grande volta. Depois nas árvores. Vou tentar, consoante seja possível, melhorar (ou melhora-las...lol). Depois, também este blog. Precisa de mudar. Estão aqui coisas que me dizem muito mas também estão aqui coisas que deixaram de fazer sentido. Nos próximos tempos será profundamente remodelado (alias, se olharem bem a mudança já começou... hehe).
Finalmente, eu como bonsaista. Onde é que fico, o que é que vou fazer daqui para a frente. Para começar, as aulas em Sintra acabaram. Fica um obrigado por tudo ao Centro. Planos para o futuro próximo em relação a essa matéria? Não tenho. Simplesmente, continuarei a acompanhar quem queira ser acompanhado por mim ;) e assim está muito bem. Quem sabe se amanhã será diferente? Logo se verá. Depois, há um acontecimento a quero dar o meu melhor contributo. O Congresso Nacional em Outubro na Ericeira. Não tenho dúvidas que vai ser fantástico. E depois também ter tempo para continuar a evoluir ;) que é o mais importante. Quem sabe voltar ao outro lado do mundo... quem sabe...
Resumindo e como diria o Sr. Walter Pall, vou tentar continuar a ser um bonsaista amador que faz o melhor para fazer as coisas com um nível profissional (mais ou menos traduzido... lol).
E já é bastante ;) Seguem-se novidades nos próximos dias.

3.2.11

Amália

Esta aroeira (pistachia) já está comigo faz 2 anos. De um amigo passou para outro e finalmente, pelo menos por agora, parou nas minhas mãos. O início desta história é de Fevereiro de 2009 e está aqui no blog... é só clicar no link. Na altura, foi transplantada para um vaso provisório, colocados uns arames para fixar a ramificação primária e ficou, a crescer. Poda daqui, poda dali e eis que chegou o momento de fazer a primeira estilização e escolher um vaso mais próprio.
Esta é uma árvore, não sei porquê, provoca-me alguma nostalgia. Talvez seja do verde pálido das folhas, talvez da casca cinza escura... mas por outro lado, tem o vibras dos jovens ramos vermelhos... enfim, lembra-me o nosso fado. Eu cá gosto ;).
Será que vou conseguir manter as dimensões na categoria shohin? É de facto muito difícil com este tipo de folhagem. Para já, está com uns belos 17cm de altura.

Foto: Fevereiro 2011 - Primeira estilização

Foto: Fevereiro 2011 - Antes da primeira estilização
Foto: Fevereiro de 2009

13.1.11

The Crane

Este crataegus já está a ser trabalhado por mim há mais ou menos 2 anos (é só clicar na etiqueta espinheiro para ler mais para trás). Foi um dos primeiros yamadori que adquiri. Na altura, como qualquer iniciado, fiquei bastante impressionado com o ar "selvagem" do exemplar. O tamanho, a casca e até mesmo a espécie (penso que na altura nunca tinha visto nenhum assim ao vivo...heheh). Mas, não dei a devida importância à característica mais dominante do exemplar: o tronco recto. Sem resolver esse "pequeno pormenor" dificilmente se conseguiria chegar a algum lado. Durante esses 2 anos a árvore esteve basicamente a crescer, com pequenas intervenções, mas principalmente a crescer. Foi o tempo de ganhar vigor e engrossar os ramos. E isso, permitiu-me neste inverno dar o "grande passo" na sua estilização. Decidir, de uma vez por todas, "para onde é que a árvore vai". Por isso, depois de cair a folha (nos espinheiros, trabalhar sem a folha é um pouco mais fácil... a sessão de acupunctura é mais suave...lol) foi altura de deitar mãos à obra.
Nada como começar a tentar resolver o seu maior defeito. O tronco recto. Nos crataegus, como na maioria das caducas, a madeira tem tendência a apodrecer, por isso, nada de jin e shari. A opção foi começar a abrir o interior do tronco, um sabamiki. Com esta operação tenta-se dar algum movimento e conicidade. Depois, mais 2 pequenos uru, aproveitando velhas cicatrizes mal fechadas do tempo da recolha. Visualmente cria-se a ilusão de profundidade e pormenor. Os olhos têm mais "coisas para comer" do que um simples tronco recto. Este trabalho de madeira morta está longe de estar terminado. para já foi só feita a primeira modulação. No futuro, o tronco será ainda mais escavado e alguns detalhes serão acrescentados.
Com o desenho da madeira morta "lançado", uma nova árvore começou a nascer. Os espinheiros na natureza, apesar de caducas, não são muito de "copa redonda". São mais "arbustivos", mais "um ramo aqui outro ali"...lol. Por isso o novo desenho é também ele mais "quebrado". O tronco sai para a esquerda, encontra o primeiro ramo também sobre a esquerda e depois, todo o conjunto se lança sobre a direita. É também uma árvore mais alta, com o ápice mais lançado para cima. Claro que agora falta voltar a encher e ramificar, principalmente na profundidade e no topo. Mas temos tempo;)

Foto: Janeiro de 2011 (nova estilização)

Foto: Janeiro de 2011 (antes da estilização)